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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

CALMA. ÉS SUFICIENTE. TU JÁ ÉS SUFICIENTE.


A calma urge, irmãs e irmãos.

O caminho para aquilo que se decidiu ser o progresso assusta-me.

A pressa de ter, ter, ter mais faz com que as pessoas se tenham tornado cegas ao que verdadeiramente importa.

Pela maioria, véneas ao PIB. Eu cá escolho o FIB. Felicidade Interna Bruta. Mas o capitalismo vai-se espalhando pelo mundo contaminando todos os recantos. Qual Coronavírus, mas já tão normalizado que passar o dia a correr atraz de tostões é, de facto, louvado.

A normatização do mundo segundo os valores de alguns: a onda espalha-se por todos os lados. Amantes de pernas entrelaçadas e olhos postos na janela do mundo quadrado que se pode ver através do nosso smartfone. Um autocarro, uma sala, cheia de gente que não se vê. Vamo-nos esquecendo de como nos conectarmos com o outro. De qualquer modo, o tempo tornou-se demasiado curto para aquilo que não renda em dinheiro. Satisfação de necessidades imediatas. Fundem-se os corpos mas não se fundem as almas.

Crianças nascem sem família, já com o futuro na balança. Ninguém tem tempo para as construír. O que exige vontade e sacrifício, tornou-se demasiado caro, a ideia de plantio tornou-se passado. Plantar. Regar. Colher. Agradecer. Amar. Para quê se tudo já está à mão de usar? Já não se concerta. Joga-se fora. Lixo. Luxo. Por todo o lado, hoje, acumula-se o que anteontem era ainda demasiado caro. Olhos nos outros. Olhos nas vitrines. Mais um que se perde em dois ou três empregos para sustento de vaidades. Ser amado. A família, abandonada, ao lado. Ser admirado. O EU na vitrine; a incapacidade de dar a mão ao outro. Não te sentes suficiente e buscas odornos, para que te sintas destacado. Posas. No controlo da situação. Feras, na selva-cidade. O coração atrofiado. O ego inflamado. A cauda de pavão aberta. E depois? Choras sozinho ou anestesias-te acompanhado?

Esquecidos de que o amor se constrói olhos nos olhos, de gestos simples de gentileza, em calma e temperança, há essa fórmula mágica, vendida em vídeo clips, filmes da Hollywood e publicidade. Não notas que o resultado vem já agoirado? Não o sentes na tua solidão? Na falta de gosto do teu pão? Quão deslocado te sentes quando não tens o telemóvel na mão? Quantas dessas pessoas, com quem teclas todos os dias, se apresentaria para te levantar do chão?

Urge, irmãos. A calma é urgente. Estamos a produzir narcisistas ao segundo, gente de coração e moral deficientes, frutos de uma sociedade doente, onde o aparente é mais importante que o que se sente. Mostrar gentileza: um ato de elevado risco. Serás, por muitos, julgado. O elo mais fraco, carne para a mesa, acreditarão. Dirão. Se deixares, comerão.

Finca as raízes das tuas crenças, fundo a perder de vista, na alma do universo. Nem carne nem carnívoro. Aprende a fazer fotossíntese. Floresce. Alimenta com os teu frutos e faz o ar circular com o oxigénio da força de seres tu, sem te corromperes. Disso, um dia, serás estrela. Sol. Luz.

A calma urge, irmãos. Respira. Um minuto de silêncio para a calma que nasce em ti. Abraço-te. Sussuro-te ao ouvido: calma, tu já és suficiente.

Contagia. Planta. Oferece essa calma para alguém ao teu lado. Um abraço, ao primeiro que encontrares. De 15 segundos, no mínimo. Um coração ao lado do outro e algumas inspirações profundas. Susurra-lhe ao ouvido:

Calma. És suficiente. Tu já és suficiente.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Vida: sonhos, castelos e ruínas



É preciso aprender a deixar as coisas fluirem sem a necessidade de que se mantenham da forma como as conhecemos: a natureza da vida é a impermanência.

Tudo, absolutamente tudo, em rítimos diferentes, altera-se. Por vezes deparamo-nos com coisas que nos sabem bem e queremos nos apropriar dessas para o nosso quotidiano.
Recusamo-nos a aceitar a mudança inevitável que se avizinha e queremos controlar a situação ou escondemo-nos para não encarar a mudança que dança, nua, à nossa frente. Voltamos aos mesmos espaços querendo encontrar as mesmas coisas e por vezes encontramos ruínas. Não é sábio sonhar castelos em ruínas de construções que ruíram com pequenas intempéries da vida. Não é, também, sábio atear fogo em ruínas de monumentos que foram erguidos com a força da paixão e vontade. É preciso aprender a preservar os patrimónios históricos da nossa alma. Construír espaços de memórias a serem visitados em momentos de saudosidade e balanço, mas que sejam espaços arejados, livres da puluíção de culpas e arrependimentos, de inaceitação da ação inevitável do tempo ou das relações de causalidade que se formam quando a nossa vontade se [des]encontra com a vontade do outro. É preciso perceber que tudo o que se ergue pode cair, que nada se constrói sem pilares sólidos mas também que nenhum esforço feito na vida é um esforço em vão se nos dedicarmos a aprender com tudo e em tudo.
Nem todas as obras serão obras-prima. Alguns serão esboços, maquetes, construções menos bem-sucedidas mas, todas elas, importantes no caminho de nos tornarmos o artísta do nosso destino.

© Janice da Graça