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segunda-feira, 1 de março de 2021

Angústia


Um poema de Janice da Graça
Com: Janette da Graça
Vozes: Janette da Graça e Jair Estevão
Adereços: Boss
Guarda Roupa: Janice da Graça
Fotorafia de Cena: Carla Rocha
Imagem: Djotch Ramos
Imagem do genérico: João Paradela
Som: David Medina e Valdir Brito
Produção: Janice da Graça e Teo Gabriel Ramos
Edição: João Paradela
Realização: Emanuel Ribeiro e Janice da Graça
Agradecimento: Sydnei Lucas
Pós-Produção: Eden
Projeto: Curtas de Poesia by Verbum Tactus

sábado, 15 de agosto de 2020

NADA É TÃO MEU COMO ISTO

Enche-me o peito!

Fecho os olhos,
sorrio.

É meu.

Nada é tão meu como isto.
Porque só a mim me pertence,
entresourado, bem guardado no peito.

Em segredo.

Tão secreto como
aquilo que em voz alta não pode ser dito,
a mim de direito,
a chave de viver graciosamente.

Sorrio. 

Sim, meu
Tão meu como as memórias,
doiradas na curva da vontade de morar aí.
Só eu as vejo.
Só eu as sinto [as vezes, DÓ eu as sinto].
Tão perto, que basta cerrar os olhos
e espreitar o coração.

Hamlet,
perdido e encontrado,
ressuscitado,
numa noite de verão.

Eu,
Sem nós.
E ainda cá está Dionísio [saúde!].

Sou eu que te falo, sem que precises cá estar.

É que vejam,
canta-me no peito
para o meu próprio deleite
e só eu o posso ouvir.
Tão secreto,
nem a ti, nem ao mundo,
a nota perfeita do SI em MI.

Tivesse o dom da chave de SOL
e faria disso música,
aos teus, vossos, nossos, ouvidos.

Mas hoje só [tudo] tenho o dom de ouvir,
decifrando,
segredos do meu rebelde coração.

Enche-me o peito!
Fecho os olhos,
sorrio.

É meu. 
 
Nada é tão meu como isto. 
 

sexta-feira, 7 de agosto de 2020

A DANÇA




O Mar e a Praia abraçam-se, sob a lua.
Há um doce jogo de paixão nos gestos espumosos das ondas, que lambem a areia.
É a cadência articulada de dois corpos, apaixonados, que se roçam

Sem pressa. 
Sem des[canço].

Aprendi sobre ritimo e sobre constância.
A pressa é filha do medo
e o medo descende da falta de fé,
de um lado da linhagem
e do outro, da falta de coragem.

A onda, calma, é cheia de certezas
e é por isso que o mar sempre chega doce à areia:
sabe que esta o espera e nada há te tão seguro como querer ir e saber que se espera.

Encontro.
Descanço.

Já, em mar alto, 
tão longe de terra que se veja,
há tempestade.

A paixão é inquieta. A inquietude é apaixonada.

Tempestade é uma dança descompassada no palco da incerteza.

Aventura? 

Haja fé!

Foto: Laginha, Mindelo Cabo Verde

segunda-feira, 20 de julho de 2020

NA CORDA BAMBA II



Imagem: Reinhold Silberman

Entre trovões e lua-cheia,
réstia de luz.
Pendura-se ao fio da existência
último arfar, fé.

Calcorrea a calçada da humanidade,
no vagar calculado da pressa recém aniquilada:
reaprender a contar estrelas [missão],
dois mais dois nem sempre são quatro.

Quatro são os pontos cardeais,
que alma desbrava vendavais
e ecoam sussurros em catedrais.
De um teu, que é meu
e faz de nós
o alvorecer da esperança.

É que sabes,
por vezes um mais um,
são dois,
mas em outras raras [e explêndidas] ocasiões,
um mais um,
é apenas um.

Janice da Graça e Norberto Benjamim



Nota: o poema que acabou de ler foi escrito na sequência da partilha do poema "NA CORDA BAMBA" [https://verbumtactus.blogspot.com/2019/02/corda-bamba.html?m=1] na minha página no Facebook e do diálogo poético travado com o meu amigo escritor, Norberto Benjamim. 

Portanto, a duas "vozes", uma angolana [o Norberto] e outra Cabo-Verdiana [eu, claro], nasceu, assim, um novo poema.

sexta-feira, 8 de maio de 2020

MAGMA À LUA

[Em noite de super lua]

Quero dar-me à lua
Gemer com o vento quando for tua
Guardar pedaços estranhos para te sonhar
Sonharei a areia nua
De mão posta em nós
Onde em mim já não sou só eu
Levarei o sonho ao rubro
Trago em mim o fogo roubado
Que nos foi dado por Prometeu
Na quentura do meu magma
Afluindo do mar onde me fiz de ti
Fazem-se rios maiores que o Nilo
Enchem os meus vales de ardores
Lambendo as minhas margens sequiosas
Cobrem as minhas montanhas airosas
Grito aos deuses do Olimpo
E a quem mais me veio no grito


Imagem: pixabay 

sexta-feira, 13 de março de 2020

SÓ É LIVRE QUEM É HONESTO



Se quizeres ser feliz, precisas ser livre. Se quizeres ser livre, precisas ser honesto. Se quizeres ser honesto, precisas de coragem.

Primeiro, sê-te honesto. Arma-te de coragem suficiente para te "despires" em frente ao espelho da verdade e encarar de frente as tuas forças e fraquezas, acertos e falhas, bons e maus institintos: toda a tua luz e toda a tua sombra.

Depois, acarinha-te. Aceita que não és e nunca serás perfeito. Aceita a tua luz sem falsa modéstia. Aceita as tuas sombras sem autoflagelação. Entende que não és e nunca serás, nesta vida, perfeito. Assume-te como imperfeito, sem deixar de te amar por isso.

De seguida, entende também que não és uma rocha mas mais como um rio. Tu não és. Tu estás. Podes mudar. Constroí com o que tens de bom. Trabalha naquilo que tens de mau.

Finalmente, acarinha o outro, que de certa forma, também és tu, já que tudo o que emites, de uma forma ou outra, há de voltar para ti. Assume as tuas culpas; retira-as de debaixo do tapete da negação para onde os varreste ou dos ombros dos bodes-expiatórios em que os projectaste. Aceita-as. São tuas. Transforma-as em lições e evolução. Muitas vezes o desagrado que tens pelo outro é a projeção, nesse, de uma parte de ti que não queres encarar de frente. Tens o poder de o fazer e cabe-te a responsabilidade dessa tarefa. Negares-te é um ato de desamor. Negar as tuas falhas é fazeres-te fraco, vítima do destino e, a um tempo, carrasco, sentenciando outros pelas tuas falhas. Isso tudo é um muro entre quem és e quem queres ser, numa tentativa de criação da ilusão, para ti e para o outro, de seres já quem desejarias ser. 

Há uma relação de causa e efeito que comanda o universo. Saberes-te tu e seres tu, em cada momento, trará para ti o que precisas para seres quem queres ser e viver a vida que queres viver, sem o peso de culpas e medos conscientes ou inconscientes. Honestidade rima com liberdade. Nenhuma vida é mais livremente vivida do que aquela de quem vive em verdade.

terça-feira, 10 de março de 2020

O LAÇO



Senta-te aí
Ao pé de mim
Não digas nada
Não fales de me amar
Nem de não partir

Mas senta-te aí
Vem todos os dias
Chega à mesma hora
Não tragas pretextos
Não mandes desculpas

A cada dia que vier
Senta-te mais perto
Olha-me em silêncio
Embala-me num olhar tranquilo
De quem vem para ficar

Ao sétimo dia, quando vieres
Deixarei que me dês a mão
O meu olhar abraçará o teu
Criarei uma caixinha no coração
E guardarei o laço que a ti me prendeu

© Janice da Graça