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terça-feira, 16 de julho de 2024

UM AMOR E UMA CABANA

No final, no entardecer da vida,

hei de querer que o tempo seja lento,

que os dias sejam quase iguais,

cheios desses pequenos nadas,

que sabem a quase tudo:

 

um abraço que não quer acabar,

a minha mão na mão do meu amor,

a música nos dias e os dias em festa,

e, claro, o amor nosso de cada dia.

 

Para morar, depois de sentir o mundo,

hei de desejar uma cabana apenas,

que seja pequena e aconchegada,

do jeito certo para viver a amar,

que é mais ou menos assim:

 

um ambiente que convide o romance a ficar,

de cômodos pequenos e uma varanda ampla,

fincada no verde e no arco-íris do florido,

elevada, com vista para o céu e o mar.

 

Nos nossos dias, numa nota de vagar,

desejaria a metáfora do viver preguiçoso de um gato,

que se espreguiça tranquilo, ao lado de quem ama,

com a calma de quem vive na sua vontade,

que é como quem nunca se sente atrasado:

 

de manhã, preguiçar no calor dos braços do amor,

ao som dos pássaros que degustam a aurora,

sem nenhum pensamento que não seja o agora,

ou o tom do nascer-do-sol ao cheiro do café;

 

de tarde, pequenas grandes coisas,

como ter gente que soma laços ao lado,

desfrutar a solitude, vagando e criando,

ou saborear o pôr-do-sol, à luz das memórias.

 

a noite, distante do demasiado grande,

o banhar os olhos nas estrelas,

o dar os ouvidos à música e os sentidos à poesia,

a pele um no outro, amando nos sentidos e no corpo.

 

Para guardar, mais memórias do que coisas,

hei de desejar uma estória abundante de sentido,

das aventuras vividas pelo mundo,

ao bem que plantamos ou regamos na caminhada,

de luxos, apenas o que nos eleve a alma e aconchegue o amor:

 

a satisfação do propósito vivido,

o legado de uma vida feita com amor,

uma biblioteca, um jardim florido, uma criança bem-amada, presente para o mundo,

e, claro, uma cama para continuar a amar.








Imagem: pixabay