O toque do sinal dado pelo verbo que chama para a ação, qual cornetas ou clarins de um regimento (toque para pensar, toque para sentir, toque para agir), com Janice da Graça.
segunda-feira, 23 de dezembro de 2019
EU VEJO
Eu vejo tantos Homens, e tão pouca humanidade
Eu vejo tanta caridade e tão pouca solidariedade
Eu vejo tanta aparência e tão pouca veracidade
Vejo Homens de máscara posta, predadores da selva-cidade
Eu vi, eu vejo, ceguem-me também, para poder não ver
Em terra de cegos, quem tem um olho é mal-afortunado
Eu vejo tantas relações, e nenhum amor
Eu vejo tantas casas, e tão poucos lares
Eu vejo tantos filhos órfãos de pais presentes
Vejo Homens que se matam por medo de se amar
Eu senti, eu sinto, anestesiem-me também, para poder não sentir
Em terra de invulneráveis, quem tem coração é mal-aventurado
Eu vejo tantos sonhos, e tão pouca realização
Eu vejo democracia, mas o capitalismo rouba a liberdade
Eu vejo tantas mentiras, onde deveria só haver verdade
Vejo seres mais sozinhos quanto mais acompanhados
Eu percebi, eu percebo, acéfalem-me também, para poder não pensar
Em terra de autómotos, quem tem opinião é mal-considerado
Vejo tantas compras, e tanta fome aqui ao lado
Vejo tanta produção, e tão desigual distribuição
Vejo tanta competição e tão pouca consideração
Vejo Homens que se riem de dentes cascados e olhos calados
Eu estranhei, eu estranho, domestiquem-me também, para poder não estranhar
Em terra onde tudo é normal, quem tem sonhos de mudança é ameaça à sociedade
© Janice da Graça
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