NavbarHack

sábado, 6 de outubro de 2018

ADEUS (?)




Há bocado, sonhei contigo
Sentaste-te no meu colo, mas não me beijaste
Acho que são as coisas que me disseste
Tirando-te dos sonhos que vou sonhando
Já não repenso nossos momentos
Assusto-me um pouco
Será que já te vou esquecendo?
Que estranho foi isso tudo
Tanto tempo contigo sem te saber amar
Queria uma noite e uma ilusão de ficares
Dar-te-ia vinho
Ou quiçá champanhe
Recitar-te-ia um poema de amor
Olharia nos teus olhos, mas não te faria minha
Diria Adeus, assim, deste mesmo modo bonito que me amaste
Mas a ampulheta virou e já não temos tempo (?)
Em ti é o tempo de outro
E dos sonhos que o mundo te manda sonhar
Em mim não sei ainda que tempo será
O mundo nunca me soube mandar
e a minha bússola sempre foi a minha vontade
(que se partiu de repente; Não tive ainda tempo para concertar)
O ontem se despede e o hoje se insurge ao amanhã
Tenho um mundo de escolhas
E nunca fui boa a escolher
Lançarei o dado do destino
Na encruzilhada do tempo que se vai
E do tempo que vem
Partes
E eu irei logo de seguida
Levarei o coração na mala e não no peito
Há uma vida que me espera
Já vou tarde e não sei, ainda, lá chegar
Vivo suspensa, eu que sou mais pensamento do que corpo
Vou a voar, chegarei em algum lugar,
Mas não sei se saberei ficar
Só tenho asas, nunca soube fazer ninhos
Nada sei de chão, chão eras tu, que partiste
Talvez viva a vida a voar,
Como os dois pássaros que tenho tatuados na pele, lembras-te?
Talvez te volte a ver e eu já seja outra,
Que nem um Adeus bonito saberia dizer
Talvez nunca mais te veja,
Esquecerei então todos os momentos maus
Guardarei os sorrisos e os gemidos
Entretanto, faço-te um poema
Os poemas sempre ficam.
Este ficará para te amar,
quando o tempo já não contar.

In O Dramaturgo, a Loucura e a Normalidade
Inédito


sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Reinventar-me

Sento-me à beira da minha alma
E devagar espreito
Olho-me por dentro, com calma
Traço o meu auto-conceito

Procuro batizar o momento
Adivinhar o caminho
Rotular o sentimento
Neste meu reino em desalinho

Há um claro discernimento:
Eu mando e desmando
Não obedeço a nenhum comando
Eu só funciono amando

Sou a Alice do meu País das Maravilhas
Num eu que amanhã não serei
Sobra-me curiosidade para percorrer milhas
Um pouco de tudo comerei e beberei

Pequena ou crescida
Nova todos os dias serei
Tanta curiosidade tenho pela vida
Que várias vezes nascerei

De régua e esquadro em punho
Procuro completar o traçado de ontem
Mas nesta alma com um novo cunho
Coexistem sonhos do amanhã e anteontem

Preparo-me para colorir a tela
Pintar a vida de aguarela
Então noto que já sou tinta-da-china
Num clic, vi-me mulher mas sei-me menina

Do passado só trago o sorriso
Vivo o presente no improviso
Para o futuro, só levo o que preciso
E assim me reinvento, sem prévio aviso 




 




Fotografias: Bob Lima
Fotografias da Gopro: Olivier Laugero
Voo: Olivier Laugero, kagou flying boat, em São Vicente, Cabo Verde
Agradecimento: Emiliano Carvalho


terça-feira, 2 de outubro de 2018

LEIS DE INTERESSE CULTURAL E ARTÍSTICO EM CABO VERDE

Conhecer a legislação ligada a áreas do nosso interesse é importante, posto que estes diplomas nos oferecem informação e orientação, o que poderá ser determinante no sucesso dos nossos interesses.

Dedicado aos artistas, autores, agentes culturais e a qualquer outro individuo que possa ter interesse nessas matérias, este artigo apresenta, assim, uma listagem de diplomas legais referentes a matérias de interesse para essas classes, já vigentes ou ainda em fase de preparação.


Como bónus disponibilizo, ainda, em anexo, os ditos diplomas. 

A.   DOCUMENTOS EM VIGOR

Lei dos direitos de autor e direitos conexos - decreto-legislativo nº 1/2009, de 27 de abril, alterado pelo decreto-legislativo nº 2/2017, de 16 de novembro – note-se que esta se trata de uma lei fundamental, não requerendo regulamentos adicionais, o que realça a sua importância no panorama legal;
Lei da Cópia Privada - lei nº 118/VIII/2016, de 24 de março;
Estatutos do Fundo Autónomo de Apoio à Cultura e Indústrias Criativas (FACIC) - decreto regulamentar nº 2/2018, de 7 de março;
Bureau Export da Música e Bens Culturais de Cabo Verde (BEM-CV)  - portaria nº 62/2014, de 17 de dezembro;
Código dos Benefícios Fiscais - lei nº 26/VIII/2013, de 21 de janeiro, alterado em 2018 –  especial atenção aos artigos 6º, 7º, 33º a 37º, 39º, 52º e 57º;  
Regulamento de registo das obras literárias, artísticas e científicas - portaria nº 9/2018, de 19 de março);
Estatutos do Artesão - decreto-lei nº 59/2015, de 20 de outubro;
Estatuto do IGQPI (Instituto de Gestão de Qualidade e Propriedade Intelectual) - decreto regulamentar nº 35/2014, 5 de dezembro;
Estatutos do Centro Nacional das Artes, Artesanato e Design (CNAD) - decreto-lei nº 26/2018, de 24 de maio;
Convenção de Berna relativa à proteção de obras literárias e artísticas - Cabo Verde é Estado membro da Convenção.

Para baixar os documentos descritos, clique no link que se segue: https://drive.google.com/open?id=1dKaTcOm51sZ0tpTGd_LYh3RRDXNY8btB

B.   DOCUMENTOS AGENDADOS PARA DISCUSSÃO NO PARLAMENTO

Numa perspetiva de regular aspetos que não foram ainda abordados legalmente ou se encontrem enquadrados de modo insipiente, estão já agendados para discussão, ou em fase de preparação, outros diplomas. Os três diplomas infra citados estiveram agendados para discussão na sessão parlamentar do mês de Julho do ano corrente, no entanto, posto o excesso de tempo que foi consumido com outras questões, a sua discussão foi adiada, estando previsto o seu reagendamento para o corrente mês de Outubro, com a retoma dos trabalhos parlamentares:

Lei das Entidades de Gestão Coletiva do direito de autor e direitos conexos
Tratado de Marraquexe
Tratados “Internet”

C.   DOCUMENTOS EM FASE DE PREPARAÇÃO

Finalmente, ainda em fase de elaboração, temos três diplomas que já têm dado que falar no panorama cultural Cabo-Verdiano. A saber:

O Estatuto do Artista – este documento esteve, nos meses anteriores, em fase de discussão com os artistas e agentes culturais nas diversas ilhas. O Verbum Tactus foi ao terreno ouvir a discussão. Aguardem, para breve, um artigo a respeito;
Lei do Cinema e do Audiovisual;
Regulamento das casas de espetáculo.

Leu? Foi útil? Partilhe com pessoas a quem isso possa, também, ser útil. Se tiver algo a dizer (sugestões, comentários ou questões), está desde já convidado a fazê-lo. 

Nota - Agradeço, neste artigo a preciosa colaboração do Sr. Júlio Leite Mascarenhas, Assessor Jurídico do Ministério da Cultura e Industrias Criativas, pelos esclarecedores inputs e cedência dos diplomas legais anexos a esta publicação.


© Janice da Graça       

Jamais

(Este não é um poema de amor)




Terias sido vulgar, banal de tão igual
Não repousariam em ti meus castelos
Mas para mal de mim, cunhei-te inusual
Insinuante poema em versos singelos

Vives em mim nesse instante alucinado
Em que da vertigem descerrei meu amor
Sobressaltando meu coração calcinado
Que na paz da razão jazia sabedor

Cultivaste esperança, loiro milho de crer
De súbito em dúvida, trouxeste vendavais
Milho enegrecido já, partiste sem colher

Hoje não chove nos teus campos estivais
Despojei-te já do que não soubeste reger
Plantarei no lugar um roseiral. Milho jamais



© Janice da Graça     
In Poetas para o Ano Novo, 2017